Desafio é fazer caber presos. Críticas se espalham por vários batalhões

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Em apenas um mês de uso, as 299 novas viaturas da Polícia
Militar já são alvo de críticas. Policiais revelam que os cubículos dos
carros – modelo ASX, da Mitsubishi – não conseguem transportar mais que
dois presos e, a depender do porte físico, somente um. Caso se trate de
ocorrência grande, é preciso pedir ajuda a outras equipes que estejam
com carros maiores. Outro problema é o local onde o estepe é guardado:
ao lado do cubículo, ocupando o espaço que já é pequeno. Apesar da
insatisfação do pessoal, a Polícia Militar alega que houve um estudo
antes da compra, e o modelo está apto para o policiamento.


As quase 300 viaturas custaram mais de R$ 30 milhões – cada tem o
valor de R$ 106.311,10. Um policial militar relata que a crítica é
unânime em todo o seu batalhão. “O modelo não funciona para a nossa
atividade. Anda bem, tem estabilidade, mas não tem cubículo. Aquilo é
uma gaiola pequena. Só cabe um e não tem como ir com as pernas esticadas
ou numa posição confortável. O preso só pode ir de cócoras ou
ajoelhado”, ilustra.


Para ele, o que era para ajudar acabou complicando. “Por exemplo,
quem está no Linea (Fiat) tem o costume de pedir apoio. Como vamos
conseguir apoiar a condução se a nossa viatura não tem esse aporte?”,
questiona. “A gente tem que contar com a Pajero. Estamos tirando uma
viatura que poderia estar patrulhando para poder dar o apoio”, completa.
No caso das Pajeros, é possível que quatro detidos se acomodem no
cubículo.


A situação se torna ainda mais delicada depois que o Conselho de
Direitos Humanos do DF questionou o uso. “A gente nem coloca preso lá
dentro porque sabe que pode dar problema. Se colocarmos, corremos risco
de sofrer com um processo de tortura”, afirma o policial. “Se for
claustrofóbico, pode morrer de desespero lá. Não há condições de
transportar ninguém”, reforça.


Para o militar, não há justificativas para a presença do pneu no
porta-malas. “Foi uma exigência da corporação, porque disseram que o
estepe original era mais fino. Só que nós nem trocamos pneu. Se der
problema, a gente aciona o pessoal da manutenção. Os estepes da Pajero,
por exemplo, ficam na garagem, nem saem”, comenta. “Era mais fácil
adaptar. Tirar aquele pneu, aquela gaiola e adaptar todo o porta-malas.
Era mais inteligente”, sugere.


Readequação

Vice-presidente da Associação dos Praças Policiais e Bombeiros
Militares do DF, o sargento Manoel Sansão reconhece que o espaço pequeno
para transportar os detentos pode, inclusive, afetar a produtividade.
“As outras viaturas conseguem pegar até quatro pessoas de uma única vez.
Com essas, se tivermos uma ocorrência de grande vulto e apreensão, não
vai ter como. Vai ser preciso deslocar outras viaturas que poderiam
estar atendendo outras ocorrências”, reitera.
O porta-malas original da ASX tem um volume de 415 litros. Com pneu, cai
para 380 litros – uma redução de 8% da capacidade. Quando comparado com
o volume da Pajero, o novo modelo sofreu uma redução de 67% da
capacidade – se levar em consideração que o porta-malas da Pajero tem um
compartimento total de 1.160 litros. Já a GM Blazer, modelo ainda mais
antigo, tem 435 litros no porta-malas – 15% a mais que o volume da ASX.


Para Sansão, o melhor seria a readequação e, em caso extremo, a
compra de novos carros. “Se o cubículo está ruim, tem de se ser adequado
para atender aos policiais e à sociedade. A Polícia Militar tem que
fazer pesquisa antes de comprar, porque é o policial que está na rua e
sabe qual o melhor carro para uso. É adaptar o espaço ou comprar novas”.


Ponto de vista

Em nota, a Polícia Militar defendeu a compra. A corporação alegou que
o modelo ASX passou por avaliações, como a segurança do policial e o
desempenho do carro para a atividade, antes da aquisição. “Essas
questões são avaliadas por uma comissão de estudo designada pelo
Estado-Maior da Corporação. O modelo ASX possui o centro de gravidade
relativamente baixo, propensão de capotagem moderada (17%), bom
desempenho técnico, boa capacidade para situações fora de estrada e para
áreas esburacadas, espaço interno reforçado, adequado para guarnições e
para transporte de pessoas detidas, entre outros”, alega.


A polícia diz ainda que o compartimento para transportar os detidos
possui todas as características que atendem a Lei 8.653/93. “Ventilação
natural, iluminação natural, divisória entre o compartimento de bagagens
e passageiros, proteção do assoalho, laterais e teto em fibra ou
material plástico de alta resistência virtualmente indestrutível pela
ação de um homem adulto sem ferramentas, porta grade com fecho externo
que proteja a porta original do veículo”, afirma, em nota.


Sobre os estepes, a PM informou que, por conta da atividade policial,
os pneus precisam ter medidas específicas e, muitas vezes, serem
reajustados – como aconteceu com as viaturas modelo ASX. “O estepe
precisou ser reposicionado para que fosse cumprido o exigido na lei e
para que ficasse resguardada a segurança dos policiais”.


De acordo com o porta-voz da corporação, major Michello Bueno, a
Polícia Militar possui variados modelos de viaturas que conseguem
atender todas as ocorrências. “Temos viaturas com cubículos grandes, sem
cubículos e com cubículos pequenos. A maior parte das ocorrências é de
menor potencial ofensivo, como discussão de vizinhos, acidente de
trânsito. São ocorrências resolvidas no local e que não há prisões”,
argumenta.


Em casos de ocorrências com grande apreensão, o major garante que a
PM estará preparada para o transporte. “Todo batalhão tem viatura com
cubículo grande. Há casos em que o preso pode ir no banco de trás, por
não apresentar periculosidade. Não há nada ilegal. Estamos dentro do
padrão exigido pela lei”, assegura.

Campanha CLDF
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