A Anistia Internacional e um grupo de jovens negros ativistas fizeram um ato nesta quarta-feira (6) no Ministério da Justiça, em Brasília (DF), para entregar um manifesto com mais de 60 mil assinaturas que pede um plano nacional de redução de homicídios de jovens negros.
A ação faz parte da campanha Jovem Negro Vivo, que luta para combater o alto índice de homicídios de negros entre 15 e 29 anos no País, e contou com a entrega de um caixão para representar os jovens mortos.
Em entrevista ao R7, a diretora-executiva da Anistia Internacional Jurema Werneck explicou o motivo pelo qual escolheram levar um caixão para entregar ao ministro da Justiça. “Lá dentro [do caixão], tinha uma série de objetos que lembravam a potência da vida negra. Levamos skate, caderno, bola, instrumentos de música. Símbolos que fazem parte das vidas das jovens e dos jovens”, falou. “Carregar esse símbolo foi muito doloroso, impactante e difícil. Estamos orgulhosos de mandar essa mensagem. Mais de 70% das pessoas assassinadas são jovens negros e jovens negras. Por isso dói tanto. Esses jovens que estavam conosco experimentam isso todos os dias.”
Ainda de acordo com ela, tais ações são importantes para “mostrar que essas taxas de homicídio fazem com que o país perca muita potência” e que “é preciso promover ações imediatas de forma a garantir que esses negros e negras participem das produções de soluções. Só pedimos que o Estado dê garantia às vidas negras.”
De acordo com dados do Atlas da Violência, do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 59 mil pessoas foram mortas no País em 2015, sendo que a maioria é formada por jovens negros de bairros de periferia.
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Por isso, cinco ativistas negros, das cinco regiões brasileiras, participaram do ato desta quinta. Ao R7, Joel Luiz, advogado criminal e morador do Jacarezinho (RJ), falou sobre a importância de ser um dos ativistas a participar da cerimônia.
“O diferencial do movimento da Anistia é que os jovens negros ficam à frente e fazem os discursos. Por ser negro, tenho 25% mais chance de morrer do que meu amigo branco. Estamos aqui pleiteando a nossa segurança e não tem ninguém falando por nós. Nós participamos e não somos apenas representados”, explicou ele.
A fala de Joel é embasada nos dados da Unicef (Fundo das Nações Unidas) que mostra números alarmantes: de cada mil adolescentes brasileiros, quatro serão assassinados antes de completar 19 anos, com três vezes mais mortes de negros do que de brancos. Se o cenário não mudar, cerca de 43 mil brasileiros entre os 12 e os 18 anos morrerão entre 2015 e 2021.
Segundo o ativista, a discussão sobre o racismo e a morte dos negros é um assunto urgente. “Temos uma população negra marginalizada e precisamos agir. Ainda que a mudança demore, temos que lutar diariamente. Essas mortes têm que ser combatidas, é urgente.”
Joel ressaltou que, “apesar de estarmos em 2017”, ainda precisa combater o racismo em seu ambiente de trabalho. “É uma luta diária. Atuo em uma área elitista, sou o único negro da sala, tirando o réu. Luto diariamente contra o racismo e preciso esfregar na cara de algumas pessoas que aquele ato foi preconceituoso.”
A campanha Jovem Negro Vivo foi lançada há três anos e a primeira fase foi encerrada nesta quarta com a entrega das assinaturas do manifesto recolhidas desde o lançamento da campanha em novembro de 2014.
De acordo com Jurema, o ministro Torquato Jardim não os recebeu em frente ao ministério. “A coleta de assinaturas da petição era para ser entregue ao ministro da Justiça. Queríamos entregar pessoalmente, mas não fomos recebidos. Entregamos as assinaturas, protocolamos o documento e vai chegar nas mãos dele de qualquer forma.”
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“Insistimos que a temática tinha que ser discutida diretamente com ele, mas isso que fizemos é basicamente uma forma de engajar as pessoas para convencer o estado brasileiro de que é preciso agir. Temos certeza de que o Brasil não quer perder tantas vidas assim”, acrescentou.
Durante o ato, os cinco ativistas pediram o fim da violência policial, mais segurança aos negros, políticas para combater o racismo estrutural e institucional e a implantação do ensino de Direitos Humanos nas escolas no ensino básico, fundamental e médio. Os jovens também discursaram sobre a preservação da vida das mulheres negras, pois a taxa de homicídio aumenta anualmente, enquanto a taxa de homicídio entre as mulheres brancas está em queda.
fonte R7