veneno em cajus Lucélia Maria Gonçalves, de 53 anos, foi acusada de envenenar dois irmãos, de 7 e 8 anos
Brasília dia 15 janeiro 2024 Jornal Mangueiral DF
Presa por quase cinco meses sob suspeita de envenenar duas crianças com cajus, em Parnaíba, no Piauí, a aposentada Lucélia Maria Gonçalves, de 53 anos, foi solta na noite desta segunda-feira após a Justiça acatar o pedido de liberdade provisória do Ministério Público. Ao deixar a Penitenciária Feminina de Teresina, a idosa novamente se declarou inocente das acusações e disse que irá aguardar o desenrolar das investigações na casa de familiares, visto que teve sua residência incendiada.
Agora eu vou descansar em paz porque eu sempre falei a verdade, mas ninguém acreditava. Só a minha família e meu advogado. Estou aliviada, graças a Deus afirmou Lucélia.
A aposentada foi solta após o resultado da perícia em cajus que teriam sido comidos por Ulisses Gabriel, de 8 anos, e João Miguel, de 7, antes de morrer em agosto não apontar a presença de terbufós — substância conhecida como chumbinho. Assim, Lucélia, vizinha dos meninos, pode ser inocente. Ela sempre negou envolvimento no caso.
Os meninos são da mesma família de outras quatro pessoas que morreram em Parnaíba, no dia 1º de janeiro, após comerem um baião de dois com chumbinho. Como a perícia não encontrou veneno nos cajus que supostamente teriam matado Ulisses Gabriel e João Miguel, uma nova investigação foi aberta para descobrir se Francisco de Assis Pereira da Costa, de 53 anos, padastro da mãe das crianças, está envolvido nas mortes. Ele foi preso na última quarta-feira por suspeita de ter “batizado” o baião de dois com o pesticida.
Francisca Maria, enteada de Francisco e mãe dos irmãos mortos há 5 meses, e mais dois filhos dela estão entre os quatro mortos deste novo crime. A outra vítima fatal é Manoel, também enteado dele.
Ainda não há um elemento que o coloque diretamente na cena do crime, mas já há informação de que aquelas crianças teriam ingerido outro alimento que não o caju. Ou seja, há um fato novo e, havendo um fato novo, é preciso que se analise toda essa circunstância — disse Silas Lopes, promotor do caso.
Entenda o caso
A polícia investiga o caso como homicídio e revelou que o veneno foi adicionado ao alimento no dia seguinte ao preparo, no dia 1º de janeiro. A família consumiu o baião de dois na noite de réveillon sem apresentar sintomas, que surgiram apenas após o almoço do dia seguinte. A inserção do veneno ocorreu depois do preparo inicial, o que explica a diferença no tempo para os efeitos terem sido manifestados.
A Polícia Civil agora apura de que forma o veneno foi parar na refeição, considerando que sua presença no prato não poderia ser acidental.
Crianças entre vítimas fatais
O envenenamento matou Manoel Leandro da Silva, de 18 anos, Francisca Maria da Silva, de 32 anos, ambos enteados do suspeito, além de duas crianças, filhos de Francisca: Igno Davi da Silva, de 1 ano e 8 meses, e Lauane da Silva, de 3 anos. Uma menina de 4 anos, também filha de Francisca, permanece internada em estado grave no Hospital de Urgência de Teresina (HUT).
Outras quatro pessoas, incluindo Francisco, foram hospitalizadas, mas receberam alta.
Diferentes versões em depoimentos
O delegado Abimael Silva revelou que Francisco apresentou mais de três versões diferentes sobre os acontecimentos do réveillon.
Em um primeiro depoimento, Francisco afirmou que não havia se aproximado da panela com o alimento, mas posteriormente, declarou ter tocado. Em seguida, disse que não havia orientado ninguém a mexer no baião de dois. Para o delegado, as afirmações contrastam com os outros depoimentos dos envolvidos.
Para a polícia civil, a motivação do crime está ligada ao relacionamento conturbado do suspeito com a enteada morta. Em um depoimento de pouco com mais de 2 horas e 40 minutos, Francisco declarou que nutria sentimentos de ódio e desprezo por Francisca.
— Ele se referia a ela como ‘uma criatura com mente tola, matuta, morta de preguiça, não serve para nada’. Também manifestava nojo e raiva dela, além de afirmar que era inútil e passava os dias escutando músicas de apologia e músicas de mala — explicou o delegado Abimael.
Francisco desejava que Francisca saísse de casa e dizia que ela não procurava homem que trabalhava, só “vagabundo”.
Segundo a investigação, o suspeito mantinha distanciamento dos dois enteados, com quem não falava. Ele chegou a descrever os filhos de Francisca como “primatas” e “pessoas não higiênicas”. O padrão de comportamento foi levado em conta para pedir a prisão de Francisco.
— Ele é uma pessoa com uma personalidade muito complexa, fala de forma espontânea, mas demonstra claramente sua aversão pela convivência com Francisca e seus filhos — afirmou o delegado.
Baú trancado
Durante buscas na casa foram apreendidos aparelhos celulares, documentos e um baú que o suspeito mantinha trancado ao lado do fogão.
Esse baú, fechado com cadeado, ficava em um local inacessível a qualquer outra pessoa na residência. É o único lugar da casa que poderia esconder algo sem que os outros moradores soubessem — disse o delegado.
Diante dos indícios, a polícia solicitou a prisão temporária de Francisco por 30 dias. O inquérito tem prazo de um mês para ser concluído.
Levando em consideração que ele era o único com motivação plausível para cometer um crime tão raivoso e torpe, aliado às constantes contradições nos depoimentos, decidimos pela prisão temporária — explicou o delegado.
A Polícia Civil destacou que o inquérito continua em andamento e que outras possibilidades estão sendo analisadas. Foi reforçado que ainda há perícias pendentes e dados de celulares apreendidos que precisam ser examinados.