Em seis meses, unidade internou 2,2 mil pessoas a mais do que no mesmo período do ano passado
O Hospital Regional de Taguatinga (HRT) dobrou a capacidade de atendimento a pacientes graves levados à unidade pelo Corpo de Bombeiros e pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Nos primeiros seis meses deste ano, foram internados 2.282 pacientes a mais do que no mesmo período de 2018 – o que gerou maior número de cirurgias e mais atendimentos ambulatoriais.
De acordo com os dados do próprio hospital, de janeiro a junho de 2018 foram internados 13.210 pacientes. No somatório do mesmo período deste ano, 15.492 pacientes deram entrada no HRT. Os bons resultados devem-se à adoção da metodologia Lean nas Emergências, estratégia que alterou processos de trabalho e que está se refletindo, positivamente, no hospital inteiro.
Com o objetivo de prestar assistência de qualidade e atender à grande demanda, o hospital buscou, no Ministério da Saúde, um projeto que auxiliasse na melhoria dos serviços. “À época, com a equipe de gestores, inscrevemos o HRT para participar do projeto Lean nas Emergências e fomos um dos 20 hospitais selecionados no Brasil”, relata a superintendente da Região de Saúde Sudoeste, Lucilene Florêncio.
Ela recorda que, em outubro de 2018, começou a fase de diagnóstico e os resultados apareceram a partir de fevereiro de 2019. “O projeto recebeu a consultoria quinzenal do Hospital Sírio Libanês, que encerrou a parte presencial em maio de 2019. Agora, somos monitorados à distância e os dados são apresentados mensalmente ao Ministério da Saúde”, descreve a superintendente.
NÚMEROS – Os números apontam um aumento na quantidade de pacientes que chegam nas ambulâncias do Samu e do Corpo de Bombeiros, que passou de uma média de 17 doentes graves por dia, em 2018, para 40 nos primeiros seis meses de 2019. O hospital também registrou um aumento significativo nas cirurgias, que passaram de 257, no mês de outubro passado, quando iniciou o projeto, para 459 procedimentos somente no Centro Cirúrgico no último mês de junho.
Lucilene Florêncio avalia: “Os resultados que o hospital está alcançando com o projeto são de extrema relevância e afetam a toda a população da Região de Saúde Sudoeste. Isso se estende até a algumas cidades do entorno que buscam atendimento no HRT, o que corresponde a cerca de 1,5 milhão de habitantes. Então, viabilizar que mais pessoas possam ser atendidas no mesmo espaço de tempo e mesmo espaço físico pode significar mais vidas salvas. E é para isso que trabalhamos”.
ATENDIMENTO – A paciente Gleidys Corrêa Marques, 83 anos, chegou à emergência em estado considerado grave pela classificação de risco, recebendo pulseira vermelha. Sua filha Meire conta que o atendimento “não demorou nada e logo ela já estava internada, porque teve convulsão e caiu. O atendimento está muito bom e os profissionais daqui são muito atenciosos”, celebrou a filha de Gleidys.
O pouco tempo de espera por acolhimento também surpreendeu Daniela Cristina Marques. Ela está com o filho de dois anos e dez meses internado. “O atendimento está sendo ótimo. Chegamos aqui e fomos recebidos em menos de uma hora, o que me surpreendeu”, relatou.
Diferentemente de Daniela, Kely Fernandes teve sua bebê, Lorena, encaminhada pela Unidade Básica de Saúde (UBS) para o hospital. A criança chegou ao HRT de ambulância devido a uma crise de bronquiolite. “Chegamos aqui e o atendimento foi rápido e muito bom. Já é a segunda vez que ela é internada aqui. Eu gosto muito deste hospital”, afirma a mãe.
RECONHECIMENTO – Entre os servidores, inicialmente, o projeto sofreu certa resistência, mas isso mudou com o passar do tempo. “Há alguns meses, tenho observado que o volume de pacientes no espaço do PS diminuiu, facilitando nosso trabalho. Tudo está muito mais organizado”, relata a técnica de enfermagem Monique Machado Maciel.
De acordo com a profissional, “foi difícil a gente aderir a essas mudanças. Em não acreditava que pudesse acontecer, mas, realmente, tem mudado bastante” confirma Monique.
Para o técnico de enfermagem Luis Ricardo Mota do Nascimento, que trabalha há cinco anos no pronto-socorro do HRT, a mudança está sendo significativa. “O projeto está envolvendo inclusive outros andares (enfermarias). Temos um fluxo melhor de pacientes, o que ajuda a esvaziar as enfermarias e a receber os novos”, conta o servidor.
O médico emergencista Isaac Ferraz destaca as qualidades da metodologia selecionada para implementar as mudanças necessárias. “O projeto é muito bom. É uma metodologia há muito estudada e, quando implementada em sua totalidade, funciona muito bem”, confirma ele.
REDIRECIONAMENTO – Para que mais pacientes pudessem ser atendidos, a estratégia adotada pelo hospital foi o redirecionamento dos atendimentos, que, na classificação de risco, não foram identificados como urgência ou emergência. Desta forma, pacientes da pediatria com classificação de risco amarelo, verde ou azul passaram a ser encaminhados para consultas no ambulatório do HRT ou na UBS de referência.
As consultas de retorno dos pacientes da Ortopedia também passaram a ser agendadas no ambulatório do hospital, dando mais agilidade ao acolhimento e desafogando a demanda da Emergência.
Essa medida resultou no aumento significativo no número de consultas ambulatoriais. Em junho de 2018, foram realizadas 8.227 consultas enquanto que, no mesmo mês deste ano, o número de atendimentos subiu para 9.600.
REDUÇÃO DE PERMANÊNCIA – Uma das estratégias para implementar o projeto foi envolver todas as áreas do hospital, não apenas o pronto-socorro. A maneira de aproximar os setores com a troca de informações foi estabelecer uma reunião diária, fazendo-se um check list da situação de cada área, levando os servidores a interagir, conhecer e participar das decisões.
Para a superintendente Lucilene Florêncio, um dos avanços foi a diminuição do tempo de permanência dos pacientes no hospital. Segundo a gestora, o tempo médio de demora no hospital, em janeiro de 2019, era de 11 dias. Em junho, caiu para sete dias.
“Isso significa que conseguimos tratar, de forma mais eficiente, um número maior de pacientes, maximizando a desospitalização”, comemora. “Houve aumento no número de pacientes atendidos, com maior segurança, agilidade e rápida resolutividade, com o mesmo número de profissionais envolvidos. Com as mudanças, o HRT avança na implantação das melhorias necessárias para atender à crescente demanda”, conclui Lucilene.
ENCAMINHAMENTO – Está sendo implantado no hospital o Encaminhamento Responsável. Com essa medida, ao receber alta da internação, o paciente saberá onde deve fazer o retorno para concluir seu tratamento de saúde, podendo ser no ambulatório do próprio HRT ou na sua UBS de referência, com o médico da família.
PROJETO – O Lean nas Emergências é um projeto conduzido pelo Hospital Sírio Libanês, financiado pelo Ministério da Saúde via Proadi-SUS. É uma filosofia de gestão destinada à melhoria de processos baseada em tempo e em valor, desenhada para assegurar fluxos contínuos e eliminar desperdícios e atividades de baixo valor agregado.
O HRT dispõe de 464 leitos e 32 especialidades ambulatoriais,as quais funcionam das 7h às 12h e das 13h às 19h. A área total do hospital corresponde a 33 mil m², sendo que o pronto-socorro possui 1.407 m², onde há 68 leitos adultos, mais um de isolamento e outros 20 leitos de Pediatria.Josiane Canterle, da Agência Saúde