Fuvest 2019: Prova foi abrangente e atual, analisam professores

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Porta de entrada da cobiçada Universidade de São Paulo (USP), a Fuvest 2019 começou sua segunda fase neste domingo, dia 6, com a prova de português e redação. Para Sérgio Paganim, supervisor de linguagens do Curso Anglo, o teste foi abrangente e diversificado, no âmbito dos gêneros textuais, e bastante atual, ao citar temas recorrentes do cotidiano dos alunos, e das redes sociais.
“É uma prova que avalia a capacidade de leitura de diferentes gêneros textuais, com níveis distintos. Tinha tirinha, meme, trecho de reportagem, poesia, música, artigo do código civil e uma peça publicitária do Ministério do Trabalho”, analisa. “Sendo assim, é uma prova exemplar que se propõe a investigar os recursos de linguagem nestes textos e como eles produzem sentido.”
O professor ressalta que é típico da Fuvest o uso de temas provocativos relacionados ao contexto moderno, caso da crítica ao trabalho escravo com a peça feita pelo Ministério do Trabalho, agora extinto. Ou uma música de Chico Buarque para remeter à ditadura militar, período que voltou a ser assunto pelo saudosismo de apoiadores; ou até um inusitado texto sobre os vilões da Marvel. “São temas caros da realidade do candidato, que motivam reflexão. A banca não avalia apenas a capacidade de interpretação de texto e do uso da gramática, mas a leitura contextualizada e crítica.”

Redação

O mesmo foi sentido com o tema da redação que pediu aos candidatos para dissertarem sobre “A importância do passado para a compreensão do presente”. “Existem movimentos que reeditam a história. Xenofobia, nazismo, ditadura eram temas já tidos como superados, um retrocesso. Agora, eles voltaram com novas roupagens. O que prova a importância deste tema”, analisa Eduardo Antonio Lopes, professor de língua portuguesa no Anglo.
Lopes acredita que a proposta foi clara e que apresentou uma mudança em relação aos demais anos da prova. Geralmente, a redação da Fuvest oferece duas escolhas que devem ser defendidas pelo aluno. “Agora, o candidato não tinha que defender a importância ou não do passado, mas falar sobre como ele contribui para o presente. Está implícito que é importante. Então o tom era mais expositivo do que argumentativo.”
Apesar do tema parecer complexo, o professor garante que os alunos tinham um robusto material de apoio, com cinco textos e uma ilustração. Para ele, o primeiro e o último trecho, de George Santayana e Walter Benjamin, eram os mais complexos e, se usados pelos alunos de forma correta, já garantiriam uma atenção maior da banca. Também como apoio para a redação, a Fuvest trouxe trechos atuais, um deles sobre o incêndio que destruiu o Museu Nacional no Rio de Janeiro, e um poema simples de Carlos Drummond de Andrade sobre a importância do historiador e seu trabalho, por vezes importuno, de manter viva a memória do que nem sempre é agradável de se lembrar. “Os textos dialogavam muito entre si. Se o aluno conseguiu fazer essa conexão, já tinha material suficiente para enriquecer sua argumentação.”

Questões mais complexas

Para o professor Sérgio Paganim, duas questões da prova, a nona e a décima, podem ter sido obstáculos no caminho dos estudantes. A pergunta de número 9 traz um trecho do livro Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e outro de Minha Vida de Menina, de Helena Morley, que fazem uma relação entre os conceitos de patriarcado e matriarcado.
A questão 10 também pede uma comparação entre dois textos, o primeiro de João Guimarães Rosa, do livro Sagarana, em que bois observam seres humanos, e outro de Carlos Drummond de Andrade, de Claro Enigma, em que homens observam bois.
“Ambas são questões que falam de relações interdiscursivas. A comparação entre textos costuma ser mais exigente e pede um olhar direcionado a um tema”, diz Paganim. “Em textos literários, ela pode ser mais trabalhosa, pois se pede um contraste entre visões diferentes, com abordagens específicas. Tradicionalmente, é um tipo de questão que exige mais da capacidade analítica do aluno. É quase uma segunda redação.”

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