Os brasileiros pisaram no freio nas compras no segundo trimestre
fazendo com que o consumo das famílias ficasse praticamente estagnado,
com alta de apenas 0,1% em relação ao trimestre anterior, segundo o
IBGE. Com a demanda fraca, o comércio encolheu 0,3% no período, mas
alguns serviços ajudaram a manter o PIB (Produto Interno Bruto) em
território positivo. Houve avanços nos setores imobiliário, financeiro e
de comunicação.
“O que vimos foi uma inflação maior e alguns preços administrados
pressionando as margens de lucro dos empresários. O aumento de custos
corroeu o aumento nas vendas”, avaliou Fabio Bentes, chefe da Divisão
Econômica da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e
Turismo (CNC).
Segundo o IBGE, a greve de caminhoneiros e a alta do dólar pesaram
contra o consumo no trimestre, via desabastecimento e encarecimento de
produtos. Além disso, houve impacto negativo do mercado de trabalho, que
ainda registra quase 13 milhões de desempregados.
Para José Ronaldo de Castro Souza Júnior, diretor de Estudos e
Políticas Macroeconômicas do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada), a conjuntura desfavorável, com elevadas incertezas no cenário
eleitoral e internacional, tem impedido uma reação mais contundente do
emprego. “O mercado de trabalho é consequência disso.”
“O que estamos vendo é que nenhum empresário quer investir antes da
eleição e as famílias, com o nível de desemprego que temos, também não
estão consumindo”, disse o professor de economia do Ibmec Alexandre
Espírito Santo.
Em relatório, a consultoria LCA avaliou que “o somatório do consumo das
famílias com os investimentos em ativos fixos (privados e públicos)
aparentemente é o principal fator por detrás da expansão muito lenta da
atividade nos trimestres mais recentes”. Até o fim do ano, Rodrigo
Nishida, economista da LCA, vê espaço para as liberações do PIS/Pasep
impulsionarem um pouco o consumo das famílias.
Por outro lado, mesmo em meio à crise fiscal, o consumo do governo
cresceu 0,5% no segundo trimestre em relação ao primeiro o melhor
desempenho desde o primeiro trimestre de 2016. O aumento pode estar
relacionado com o calendário eleitoral, disse Claudia Dionísio, gerente
da Coordenação de Contas Nacionais do IBGE. Como a lei eleitoral impõe
restrições aos gastos públicos perto das eleições, os governos regionais
correm para aumentar o consumo no segundo trimestre.