Cirurgia para implantar o material foi realizada com sucesso nesta sexta-feira
Uma nova pele humana foi implantada, nesta sexta-feira (3), na paciente C.R.S., 47 anos, vítima tentativa de feminicídio no Distrito Federal. Ela foi atingida por ácido e teve 45% do corpo queimados. Foram, aproximadamente, quatro horas de cirurgia, realizada com sucesso pela equipe do Hospital Regional da Asa Norte (Hran), onde ela está internada fazendo todo o tratamento necessário.
A pele humana foi enviada pelo Banco de Pele de Porto Alegre a pedido dos médicos do hospital. “Estamos usando todos os recursos disponíveis no Hran e também buscando, estrategicamente, outras possibilidades, em todo o país, para atendê-la da melhor maneira possível”, ressaltou o chefe da Unidade de Queimados do Hran, José Adorno, cirurgião plástico que conduziu o procedimento.
Segundo o especialista, a pele humana é usada em casos muito graves, como é a situação de C.R.S., que teve queimadura de terceiro grau, atingindo, principalmente, a face, o pescoço, o colo, o tórax e os membros superiores.
Padronizada pelo Ministério da Saúde, a pele humana é um curativo biológico, usado temporariamente para preservar as áreas queimadas. A pele humana pode ficar na paciente pelo período de 7 a 15 dias. Após esse prazo, é necessário trocar por uma nova pele do Banco de Pele ou por outro material, até que seja feito o enxerto de pele definitivo, retirado de outras áreas do corpo da própria paciente.
“A pele foi aplicada em todos os locais indicados, à exceção de algumas como a face, onde já iniciaremos a reconstrução definitiva, na próxima semana, com matriz dérmica, uma espécie de pele artificial”, ressaltou Adorno. O cirurgião informou, ainda, que a paciente já recebeu enxerto no pescoço, uma das prioridades dos médicos, que se anteciparam na reparação, prevendo uma possível necessidade de traqueostomia, o que não foi necessário até o momento.
CUIDADOS – O médico clínico, especialista em terapia intensiva da Unidade de Queimados, Frattinni Gonçalves, que também acompanha a paciente, explicou que o tempo de internação em vítimas de queimadura é de, aproximadamente, um dia para cada um por cento de área queimada, variando de acordo com as complicações que podem surgir.
“Após a internação, nesses casos graves, o tratamento ambulatorial para paciente queimado dura pelo resta da vida. Temos pessoas que estão em tratamento desde que comecei a trabalhar com os queimados, há 32 anos”, ressaltou.
Segundo ele, o motivo de o tratamento não ser interrompido são as sequelas, que podem atingir o funcionamento de diversas partes do corpo, ou mesmo o aumento do peso corporal, que interfere diretamente na pele já cicatrizada.
O tratamento de uma vítima de queimadura tem um custo elevado pela necessidade de se usar muitos medicamento e recursos tecnológicos avançados, além de profissionais especializados.
No caso da C.R.S., que ficou por cinco dias no Leito de Tratamento Especializado para Queimados, o custo da diária foi de cerca de R$ 5 mil. Cada troca de curativo tem o valor de R$ 2 mil, além de outros R$ 2 mil por cada procedimento feito em dias alternados para tratar a pele. “Para fazer a reconstrução do rosto, o custo estimado apenas da matriz epidérmica será de, aproximadamente, R$ 200 mil”, contabilizou Frattinni, ao destacar que há inúmeros outros custos.
HUMANIZAÇÃO – A equipe multiprofissional que cuida de C.R.S., assim como dos demais pacientes internados na Unidade de Queimados, é formada por médicos clínicos, anestesistas e cirurgiões, além de enfermeiros, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, nutricionistas e psicólogos.
A irmã da vítima, M.C., 48 anos, conta que passou a infância e a adolescência morando com a irmã até se casar. Por isso, foi um choque receber a notícia da situação de C.R.S., apenas um ano mais nova.
“Graças a Deus, ela está internada aqui. Eu só posso elogiar o tratamento que estão dando à minha irmã. Está sendo muito bem tratada. Ela mesma disse que Deus colocou anjos para cuidar dela, com todo o carinho e dedicação que ela precisou, desde o dia em que chegou ao Hran”, declarou M.C.
A irmã afirmou que a equipe sempre conversa para explicar a situação e também para acalmá-la. “Nunca passamos por isso. Então, o apoio que a equipe do Hran nos dá é de grande importância. Eu só tenho a agradecer”, finalizou.Ailane Silva,