Maria Irani Medeiros, de 54 anos, vê
em compartilhar problemas com os outros o alívio para os seus próprios.
Ela é uma das pacientes da Unidade Básica de Saúde (UBS) 2 de
Samambaia que participam toda sexta-feira dos encontros de Terapia
Comunitária Integrativa (TCI). “Nós viramos amigos. Quando estou
precisando, vou à casa deles conversar”, conta a dona de casa. As
sessões — também chamadas de rodas — duram duas horas e ocorrem, nesse
caso, no Parque Três Meninas.
Disponível na rede pública de saúde do
Distrito Federal desde 2011, o princípio da prática é, com base na
intervenção coletiva, aproveitar as experiências da comunidade para
incentivar cada paciente a criar as soluções para suas próprias
dificuldades.
A TCI ainda fortalece os laços sociais
e os benefícios de viver em conjunto, complementa a
coordenadora-técnica de Terapia Comunitária Integrativa da rede,
Doralice Oliveira Gomes.
“A partir do momento em que consigo ouvir a dor do outro, também penso
na minha e em estratégias de como melhorar e cuidar melhor de mim”,
avalia a servidora da Secretaria de Saúde. “Com isso, estabelecemos
redes solidárias.”
No espaço de escuta e fala, há regras claras, tais como:
- Fazer silêncio quando tiver de ouvir o outro
- Falar de si
- Usar recursos culturais, como cantos, quando possível
- Não dar conselho. Isso envolve não julgar ou criticar os demais participantes
“Aqui somos todos iguais, por isso
estamos em círculo”, explica a psicóloga Andréa Mota Machado Dias, que
ajudou a implementar o grupo em Samambaia, em 2011.
Encontros têm temas diferentes a cada dia – Ela
o toca ao lado de uma assistente social. Os encontros, com temas
diferentes a cada dia, são divididos em momentos para a acolhida, a
escolha do assunto e a partilha de experiências.
As demandas chegam por encaminhamento
de alguma unidade de saúde da região ou, espontaneamente, da própria
comunidade. Não há limite de idade para participar.
A terapia comunitária é uma das 14 práticas integrativas em saúde disponíveis na rede e oferecida em 29 unidades no DF (veja os locais, dias e horários).
Metodologia difundida em todo o Brasil – Criada
em 1987, em Fortaleza (CE), a metodologia está difundida em todo o
Brasil — com cerca de 35 mil terapeutas — e presente em todos os países
da América Latina, além de outros da Europa: Dinamarca, França, Itália,
Portugal e Suíça.
Segundo Doralice, há 33 terapeutas
comunitários da rede pública local em formação pelo Movimento Integrado
de Saúde Mental Comunitária (Mismec) do Ceará, sem custo para o governo.
Em 2012, quando havia apenas seis
grupos de TCI, a secretaria capacitou 50 servidores para trabalhar com a
técnica, o que permitiu aumentar a quantidade de opções. Em Brasília, o
curso é oferecido pelo Mismec-DF.