Governo do Distrito Federal de reforma e manutenção dos espaços culturais da região. Na matéria de hoje, a reportagem apresenta o trabalho de vários órgãos para deixar os locais apresentáveis e de forma organizada para a população e os turistas.
Muita gente conhece a história. Parece lenda urbana, mas não é. Aquele “prendedor gigante” localizado quase em frente ao Supremo Tribunal Federal (SFT), em plena Praça dos Três Poderes, é um pombal e foi projetado por Oscar Niemeyer, a contragosto, a pedido da primeira-dama, Eloá Quadros, então esposa de Jânio Quadros, que ocupou o cargo por apenas sete meses, em 1961. As más línguas eternizaram que foi a única obra de Jânio na nova capital. Um lugar que, por sinal, dizem que ele não morria de amores.
Essa é só uma das dezenas de fatos, acontecimentos e fabulações que envolvem os vários prédios e monumentos de Brasília, quase todos patrimônios culturais e históricos do Distrito Federal. E, no caso específico do Centro da Praça dos Três Poderes (CP3P), com grande valor cívico. Daí a necessidade de todos esses espaços estarem sempre em boas condições e apresentáveis de forma organizada para a população e turistas do país e do mundo inteiro.
Um esforço que a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF (Secec), em parceria com outros órgãos do GDF, não tem medido. Ou seja, revitalizando, reformando e colocando em ordem os aparelhos culturais da cidade. Pelo menos seis dessas áreas privilegiadas do Plano Piloto já passaram por processo similar:
“Essa é a função do poder público, o de garantir a manutenção permanente desses locais, revitalizando sempre que precisar, porque são obras de artes para utilização da sociedade e que, aliás, também deve ajudar a preservar”, destaca o subsecretário de Patrimônio Cultural da Secec, Demétrio Carneiro. “No caso da Praça dos Três Poderes, estamos falando de um lugar que é um marco cívico do DF, um patrimônio material que você vê, pode contemplar, mas, também, tem uma carga simbólica que é a razão de ser de todo o projeto do Niemeyer”, explica.
Luzes sobre a memória da transição
Não duvide do potencial histórico, cultural e cívico do lugar. Além de verdadeiro museu a céu aberto, também representa uma bela viagem ao passado, presente e futuro da nação. Basta conferir os monumentos do Centro Cultural dos Três Poderes, integrados à Praça e subordinados à Subsecretaria de Patrimônio da Secec. Todos em fase de revitalização, em menor ou maior grau.
Localizado próximo à pista que dá para a parte de trás do Congresso, o Museu da Cidade, inaugurado em 21 de abril de 1960, junto com a nova capital, tem a responsabilidade de guardar a memória da interiorização do país. Carimbado com um rosto do presidente Juscelino Kubitschek e uma frase que sela o destino da nova cidade na fachada externa, o edifício histórico é recheado de fotos e frases marcantes do passado, assim como outros três monumentos da área. Antes no breu, agora estão iluminados por refletores novos. Trata-se de uma reivindicação antiga dos turistas e de quem trabalha próximo à Praça.
“O Museu da Cidade marca a transição do poder do litoral, que era o Rio de Janeiro, para o interior, o Brasil central, enfim, Brasília. Ele é a memória dessa mudança”, contextualiza Rafael Soffredi, diretor do CC3P. “Parece algo simples, mas essa iluminação não apenas revitaliza os monumentos, como os coloca em evidência dentro da enormidade que é a Praça dos Três Poderes”, diz o gestor, referindo-se, também, à escultura Os Candangos, de Bruno Giorgi, além do famoso Pombal, com cara de prendedor de roupa, de Niemeyer, e o Monumento da Unesco.
Nesta semana, foi assinada um convênio entre a Secec e a Novacap, que abre caminho para a restauração da Sala Martins Pena, do Teatro Nacional Claudio Santoro e, em breve, de toda a estrutura do equipamento interditado há mais de seis anos. Confira no vídeo abaixo:Tocador de vídeo00:0002:09
Fachadas de mármores
Assim como as belas fachadas de mármores do Museu da Cidade, as pedras portuguesas que formam o amplo calçadão da Praça dos Três Poderes estão sendo limpas com jatos de água e os locais deteriorados, também estão sendo reparados. O trabalho minucioso é realizado por 13 apenados da Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso (Funap-DF) e nove encarregados da Diretoria de Urbanização da Novacap. “Tem muita coisa para recuperar”, avalia o engenheiro da companhia Aires Soares. “O nosso compromisso é deixar tudo limpo e recuperado até o dia 6 de setembro”, antecipa.
Turistas de Foz do Iguaçu (PR), os paranaenses Samuri Schesser, 37 anos, e Roque Colombo, 54, ficaram deslumbrados com o tamanho dos edifícios projetados por Oscar Niemeyer. “A gente vendo isso na televisão parece tão pequeno, mas chega aqui é impactante”, disse o pecuarista Samuri. “A beleza desses monumentos é uma coisa que impressiona”, conta o empresário Roque.
Para a autônoma brasiliense Kailene Racele, 30 anos, anfitriã da dupla sulista, o trabalho de revitalização da Praça dos Três Poderes e dos monumentos que fazem parte do espaço é necessário. “Tem que deixar o lugar bonito sempre. Além de receber gente do mundo e de várias parte do País, ainda é projetado na TV o tempo todo”, observa.
Pequeno gigante
Construído em homenagem ao presidente Tancredo Neves e aos heróis nacionais que defenderam a liberdade e democracia no Brasil, como o inconfidente Tiradentes, a revolucionária Anita Garibaldi e o escravo Zumbi dos Palmares, o Panteão da Pátria foi inaugurado em 7 de setembro de 1986. Com traços de Oscar Niemeyer, o edifício de três andares conta com vitrais rubros da artista Marianne Peretti (também responsável pelo revestimento vítreo da Catedral Metropolitana de Brasília) e mural do artista plástico Athos Bulcão. Graças à atenção especial dada ao espaço pela Secec, via Subsecretaria de Patrimônio Cultural, o local pode usufruir de uma novidade há tempos esperado.
“Como aqui tem muitos servidores de outras instituições, a instalação da cancela eletrônica no estacionamento do Panteão trouxe uma comodidade para os convidados, muitos deles integrantes de comitivas internacionais vindo das embaixadas”, conta o gerente Rafael Soffredi. “Hoje tem lugar para eles estacionarem sem problema”, explica.
Bem escondidinho e pequeninho, mas de uma grandeza que não cabe nos seus 432 m², o Espaço Oscar Niemeyer tem o maior volume de obras de todos os ambientes culturais do Plano Piloto. Com duas galerias e um anfiteatro com capacidade para 20 pessoas, o charmoso cantinho do arquiteto que criou as edificações modernas da capital que encantou o mundo, além da revitalização do teto, teve o sistema de rede elétrica e o ar condicionado recuperados. O espaço também ganhou carpete e pintura nova. Transtornos causados pela última chuva foram sanados com a impermeabilização da cobertura de um bloco.
“Estamos com 95% da reforma feita”, diz, animada, Marcela Lopes, uma das responsáveis pelo local. “Não importa o tamanho do espaço, mas o seu significado, a importância para a cidade, a localização que é no coração da capital, a posição estratégica, perto dos três poderes e de uma área de bosque”, valoriza.
Arquitetura e de urbanismo
De acordo com o subsecretário de Patrimônio Cultural da Secec, Demétrio Carneiro, a ideia é transformar a área num importante centro de pesquisa que valorize tanto os trabalhos de arquitetura e de urbanismo, dois pilares que são sinônimos de modernidade quando o assunto é Brasília. Há, inclusive, uma exposição programada para quando essa pandemia acabar. “Será a integração desses dois grandes mestres da cidade que foram Oscar Niemeyer e Lucio Costa”, planeja.
Assim como o Espaço Renato Russo, brindado por lavagem dos arcos internos, limpeza de luminárias e toda parte de vidros das galerias, além da impermeabilização do telhado, a Biblioteca Nacional de Brasilia (BNB) ganhou vida nova com ajuda da equipe do Serviço de Limpeza Urbana (SLU), responsável pela limpeza de toda a parte externa do lugar, pichadas por manifestantes.
Com capacidade para receber cerca de três mil usuários por mês, a Biblioteca Pública de Brasília, situada na 312/313 Sul, é conhecida por receber grande fluxo de estudantes e moradores do final da Asa Sul. Por lá, o olhar especial da Secec também foi bem-vindo. Além das limpezas de luminárias e de todo espaço físico, o celeiro de livros dessa parte do Plano foi beneficiado por internet mais potente e novo banheiro. “São benfeitorias que mexem com a autoestima dos servidores e despertam o interesse dos frequentadores. É um lugar bem estimado e democrático, recebemos até moradores de rua”, comenta a diretora Simone Queiroz Afonso.