O acordo entre os EUA e a China assinado em Washington em 15 de janeiro é um fator de certeza extraordinário na economia global e, como resultado, os índices de expansão global apresentaram um aumento de 4,1% anual em janeiro, 1,6 ponto percentual a mais do que há três meses.
Há uma melhoria geral nos países avançados – EUA em primeiro lugar – de 0,5 ponto no período novembro, dezembro e janeiro. O mundo emergente, liderado pela China e pelo Brasil, experimentou um salto de 2,5 pontos percentuais, realmente notável.
O caso da China chama a atenção, pois indica um crescimento de 7,6% anual em dezembro de 2019, estabelecido pelo nowcast (previsão do presente ou de curto prazo) de Fulcrum.
O dado central dessa recuperação praticamente sem exceções é o boom global do setor manufatureiro, que, embora represente apenas 20% da economia mundial, tende a liderar a alta do ciclo econômico, principalmente após a plena implantação da nova revolução industrial, que ocorreu nos últimos três anos, especialmente nos EUA e na China.
Durante esse período, a manufatura global sofreu o impacto do conflito entre os EUA e a China, chamado de “guerra comercial“, com uma queda generalizada do investimento fixo industrial devido ao extraordinário grau de incerteza desencadeado pela disputa entre as superpotências A manufatura representa apenas 11% do produto norte-americano e continua diminuindo, mas sua capacidade produtiva é cada vez maior, porque a nova revolução industrial, ao fusionar digitalmente manufatura e serviços, cria bens cada vez mais intensivos em conhecimento e cada vez menos dotados de conteúdo material: esse é o trabalho da fusão digital.
Sendo assim, o índice global de fabricação cresceu 0,7 ponto percentual em janeiro, indicando um boom de 1,7 ponto acima do nível de julho de 2019, quando a recuperação começou.
O índice de crescimento da manufatura está diretamente ligado à expansão do comércio internacional, porque os bens são, de longe, o principal fator de expansão do intercâmbio global na economia globalizada do século 21.
Existe um elemento estrutural no declínio do comércio internacional nos últimos dois anos: a produção industrial de alta tecnologia dos países asiáticos, liderada pela China, atingiu um ponto de maturação/saturação na tecnologia dos smartphones de quarta geração (4G), e como a China produz 25% do total mundial desses bens (mais de 50% nas economias asiáticas, incluindo o Japão), isso causou uma queda na produção e nas exportações de equipamentos 4G.
O comércio internacional também foi reduzido devido ao fato de que agora a China cresce praticamente com base exclusivamente no consumo interno (98% do total) e de que a relação entre as exportações da China e o que compra do mundo é 1 para 3.
Tudo está à espera da implantação de um novo ciclo industrial de alta tecnologia, desta vez focado na tecnologia 5G. Esse ciclo começará a delinear todas as suas possibilidades ao longo deste ano na China, para atingir seu ponto culminante em 2025, quando espera ter um universo de usuários de 480 milhões de integrantes (40% do total mundial).
O PIB industrial chinês ainda representa 28% do PIB, mas há menos de 10 anos representava 50%. Além disso, a economia digital já representa mais de 40% do produto e seria de mais de 70% em 2025.
Tudo indica que haverá uma recuperação plena da economia mundial em 2020, com um boom global de 3% do produto nesse período, em uma trajetória claramente ascendente.
No boom econômico global de 2016/2018, o produto aumentou de 2% para 5% em dois anos (representando um aumento de 6,5% anual medido em capacidade de compra doméstica, então liderada pela China).
Desta vez são os EUA que lideram o crescimento global, por meio de um boom de investimentos de dimensões históricas: o país recebeu mais de US$ 12 bilhões em capital de todo o mundo entre 2017 e 2019, em um processo fenomenal de reversão de fluxos que está se acelerando cada vez mais (o FMI estima em 1,6% do produto entre 2017 e 2018). O PIB dos EUA chegou a US$ 21,9 trilhões, ou seja, 25% do produto global.
Na economia dos EUA, o Federal Reserve (FED) finalmente concordou em ser guiado pelo que estava acontecendo no sistema produtivo real, e no ano passado reduziu sistematicamente as taxas de juros. O mesmo aconteceu com o Banco Central Europeu (BCE).
Por essa razão, o “otimismo” de produtores e investidores é o mais alto dos últimos 10 anos, o que significa que a psicologia dos atores da economia real reflete o que acontece na estrutura produtiva.
O acordo EUA/China (Fase 1), celebrado em Washington em 15 de janeiro, e que concluirá no evento a ser realizado em Pequim, provavelmente em fevereiro, com a presença do presidente Donald Trump e do presidente chinês Xi Jinping, é um ponto de inflexão na história do mundo.