A beleza não é tudo. O lema parece inspirar uma cruzada moral,
lançada pelo concurso Miss Venezuela, salpicado por acusações de
corrupção e favores sexuais entre ex-candidatas.
Motivo de orgulho
em um país considerado fábrica de misses, a competição ficou na
berlinda após denúncias e insultos que mostraram a pior face dos que
antes despertavam simpatia.
Por causa disso, os organizadores
anunciaram nesta quarta-feira (21) uma “revisão interna” para determinar
se pessoas próximas ao evento incorreram em “atividades que abalem os
valores e a ética”, segundo um comunicado.
Também suspenderam
“temporariamente” os castings do Miss Venezuela, concurso do qual saíram
sete ganhadoras do Miss Universo e seis do Miss Mundo.
Além
disso, a Quinta Miss Venezuela, uma mansão luxuosa em Caracas, onde as
candidatas se preparam, fechou as portas até segunda ordem. Um vigia
solitário guardava a propriedade nesta quarta-feira.
A organização
assegurou que reestruturará o concurso e seu código de ética para que
“fatos como os que foram atribuídos a terceiros nas redes sociais não
tenham espaço”.
O escândalo veio à tona no começo de março, após a
difusão de imagens da ex-miss Zoraya Villarreal em eventos com uma
fundação do empresário Diego Salazar, detido por corrupção, envolvendo
seu primeiro Rafael Ramírez, ex-todo-poderoso da petroleira estatal
PDVSA.
A publicação desatou uma forte troca de insultos pelas
redes sociais entre uma dezena de ex-misses e apresentadoras de TV,
entre elas Annarella Bono, que defendeu Villarreal.
Bono insinuou que outras ex-participantes estariam envolvidas em atos de corrupção e favores sexuais.
As
ofensas foram de baixo calão: “putas”, “prostitutas” e “apadrinhadas”,
esta última reservada a quem, supostamente, teria se beneficiado de
corrupção no governo.
“São todas umas putas e aqui todo mundo as
elogia. A raiva que me dá é que as únicas apadrinhadas somos nós”,
ironizou Bono, ex-mulher de um militar de alta patente, que chegou a
mencionar várias delas.
“Não, minha filha, procure um psiquiatra”, respondeu a atriz e ex-miss Angie Pérez.
Em
outras mensagens, a ex-candidata Hannelly Quintero acusou de
participação em negócios ilegais outra delas, Stefanía Fernández, Miss
Venezuela 2008 e eleita Miss Universo em 2009.
“Levavam alegria
aos mais necessitados e enchiam as contas delas em dólares”, declarou a
respeito das atividades da fundação de Salazar.
No meio da confusão, Bono deixou a emissora onde trabalhava.
Escândalo passageiro
Uma
modelo experiente, que participou de vários concursos de beleza,
declarou à AFP sob condição do anonimato, que as propostas indecorosas
às misses são comuns.
“Há muita prostituição. Eu recebi propostas
desse tipo, mas nunca aceitei porque tenho princípios. Se aproveitam de
meninas humildes que chegam do interior”, relatou esta mulher, que
tentou, sem sucesso, disputar o Miss Venezuela no final dos anos 1990.
O jornalista Nayib Canaán, que cobre o evento há anos, avalia que não se deve “generalizar”.
“Há moças de conduta inatacável e outras que são milionárias e não têm necessidade de ir para cama com ninguém”, disse à AFP.
Na
sua avaliação, a guerra verbal só veio reforçar as suspeitas sobre
conduta inapropriada do chamado “czar da beleza” Osmel Sousa, que
renunciou em 6 de fevereiro após dirigir o concurso desde a década de
1970.
“Sua saída ocorreu em termos pouco claros, deixou muitos
fios soltos”, disse Canaán. Sousa não se pronunciou sobre o escândalo
desatado pela ex-pupilas.
Embora continue atraindo a atenção de
milhões de pessoas, o Miss Venezuela perdeu brilho nos últimos anos
devido à grave crise econômica venezuelana.