O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) abriu
um processo de investigação para averiguar riscos a usuários brasileiros
no episódio envolvendo a consultoria internacional Cambridge Analytica e
o Facebook. O inquérito vai apurar a conduta da plataforma e da
representação da empresa no Brasil, denominada CA Ponte.
O
escândalo veio à tona quando um ex-funcionário da Cambridge Analytica,
Christopher Wylie, deu entrevistas publicadas pelo jornal Observer of London, ligado à publicação The Guardian,
no último sábado, 17, detalhando como a empresa usou dados de 50
milhões de perfis, adotando o método conhecido como “psicografia”, para
direcionar o voto destas pessoas em Donald Trump nas eleições
presidenciais dos Estados Unidos de 2016.
O documento do MPDFT,
que formaliza a abertura do inquérito, aponta a ação da Cambridge
Analytica como “tratamento ilegal de dados” e lembra que a empresa
começou a operar no Brasil em 2017 em parceria com a Ponte, união
denominada agora CA Ponte. A investigação se propõe a “apurar os fatos”
frente a gravidade destes e os riscos aos consumidores e a pessoas cujas
informações pessoais possam ser manipuladas.
“Existem suspeitas
de que a Cambridge Analytica pode estar fazendo uso, de forma ilegal,
dos dados pessoais de milhões de brasileiros, usuários do Facebook ou
não, para fins de perfis psicográficos em escala nacional e regional”,
diz o texto.
A preocupação se justifica, continua o documento,
pelo fato de a empresa se anunciar como uma consultoria que atua com
análise de dados para influenciar comportamentos, sobretudo em processos
eleitorais. Em reportagem do canal britânico Channel 4 veiculada
nesta semana, diretores da firma, filmados sem conhecimento, informam
que após atuarem em diversas campanhas em todo o mundo “estão indo para o
Brasil”.
Entenda melhor
A Cambridge Analytica e o
Facebook entraram no olho do furacão de um escândalo de proporções
mundiais nesta semana. A CA passou a ser conhecida por sua atuação na
campanha de Donald Trump à Presidência dos EUA e no plebiscito que
decidiu pela saída do Reino Unido da Eunião Europeia (Brexit). Ela
também atuou em processos eleitorais de outros países.
A atuação
da companhia já vinha sendo questionada desde as eleições
estadunidenses. Neste fim de semana, a entrevista do ex-funcionário
desnudou o esquema de construção de perfis quase individualizados, a
partir de questionários e jogos no Facebook (conhecidos como quiz), e de uso dessas informações sem consentimento para influenciar preferências políticas no pleito norte-americano de 2016.
Nesta semana, o canal britânico Channel 4 veiculou
uma longa reportagem em que jornalistas disfarçados de políticos
interessados no serviço da consultoria filmaram dois de seus principais
diretores com câmeras escondidas. Nessas conversas, eles revelam como
usam dados coletados de maneira duvidosa, e inclusive ilegal, para
moldar a opinião pública durante campanhas.
Pôsteres com a imagem de Alexander Nix atrás das grades no prédio da Cambridge AnalyticaO
CEO da empresa, Alexander Nix, chega a mencionar a possibilidade de uso
de outros recursos, como o envio de garotas de programa à residência de
um candidato pra fomentar escândalos que seriam explorados
posteriormente. Com a revelação, Nix foi afastado de sua função pelo
conselho da Cambridge Analytica.
Mas não foi somente a empresa que
teve a imagem em xeque. O Facebook passou a ser contestado por
autoridades dos Estados Unidos e do Reino Unido pela forma como permitiu
que este episódio ocorresse. Esses questionamentos levaram à convocação
da direção da companhia a prestar explicações públicas nestes dois
países, além da queda do preço das ações do Facebook, ocasionando um
prejuízo bilionário.
Hoje, o presidente da empresa, Mark
Zuckerberg, criticado pelo silêncio ao longo da semana, emitiu um
comunicado em sua página na plataforma. Nela, ele diz que o Facebook já
havia identificado o repasse de dados à Cambridge Analytica e cobrado
que estes fossem apagados. Diante das revelações do ex-funcionário,
informou que suspenderam a conta da firma e contrataram uma auditoria
independente para inspecionar se as informações foram, de fato,
eliminadas.
Além disso, o Facebook anunciou uma série de medidas
de restrição a aplicativos do uso de dados de seus usuários. Segundo o
comunicado, uma ferramenta será disponibilizada para informar o usuário
quais aplicativos estão utilizando seus dados e de que forma. fonte jornal de Brasília