“Não quero tentar justificar o ato. Quero que ele pague pelo
que fez, mas dentro das limitações dele”. O relato é de uma amiga
próxima de Gabriel Lima Braga, jovem de 23 anos que matou o pai e feriu a
mãe a facadas em Vicente Pires. A amiga, a quem o rapaz confidenciou
ouvir vozes, contou ao JBr.que ele enfrentava problemas em casa por ser
gay e não frequentar a igreja dos pais, pastores evangélicos. O réu está
em ala psiquiátrica e seguirá preso até o julgamento.
Gabriel deixou de frequentar a igreja aos 18 anos. Entrou na
Universidade de Brasília em 2013, para cursar História. Foi quando se
redescobriu, define a amiga. “Para eles, ver o filho entrando nesse
mundo e se afirmando gay deve ter sido um impacto forte”, aponta a
estudante de 25 anos, que conheceu o jovem na instituição. “Sempre foi
explícito que não havia um bom relacionamento com a família: pai, mãe e
irmã”, completa.
À jovem, Gabriel alegava que era agredido pelos pais. “Disse que eles já saíram no tapa e que foi bem feio”, afirma.
Segundo ela, Gabriel teria encontrado nas religiões afrodescendentes o
amparo que sentia falta. “Ele frequentava terreiros de umbanda e
candomblé. A mãe disse que ele mexia com magia negra porque é muito
evangélica”, disse, se referindo ao depoimento de Josenita Lima Braga à
polícia. “Ele meditava, fazia reiki, mas os pais diziam que era coisa do
demônio”, observa.
O acusado confidenciou que começou a ouvir vozes, enxergar coisas e
ver vultos. “Suponho que tenha algo a ver com esquizofrenia, algo que
tire a pessoa da realidade”, conjectura a jovem. Ela acredita que o
amigo esteja em surto. “Doenças mentais não têm cura. Ele deve ser
tratado, mas sabemos que, se fora da prisão é difícil, dentro será
pior”, acredita.
Juiz mantém rapaz preso
O Tribunal de Justiça do DF e Territórios, por meio do Núcleo de
Audiências de Custódia, decretou a prisão preventiva de Gabriel ontem. A
Justiça entendeu que a medida é também uma forma de preservar a vida da
mãe do rapaz, Josenita Lima Braga, de 54 anos.
O juiz Aragonê Nunes Fernandes levou em consideração o depoimento da
mulher, o qual dizia que o filho mexia com “magia negra e bruxaria”.
Determinou também que Gabriel fique em uma ala separada dos outros
presos, “tendo em vista que aparentemente ele possui problemas de ordem
psicológica/psiquiátrica”.
“Nesse contexto, a única providência capaz de frear o ímpeto
criminoso e garantir a ordem pública é sua segregação cautelar. A medida
extrema visa, também, preservar a instrução e a integridade da vítima
sobrevivente”, completou na decisão.
Mãe deixa hospital
Josenita Lima Braga, 54 anos, foi ferida no rosto, pescoço, braço e
barriga. De acordo com o delegado-adjunto da 12ª Delegacia de Polícia,
Paulo Henrique de Almeida, a mulher já recebeu alta do Hospital Regional
de Taguatinga (HRT). Assim como o esposo que morreu, José Pereira
Braga, 57 anos, ela é pastora da igreja evangélica Ministério
Internacional Vida Abundante.
Nas redes sociais, familiares e amigos postam homenagens ao pastor
José Pereira. As mensagens envolvem, principalmente, a religião. A
reportagem entrou em contato com familiares, mas eles preferiram não
comentar nada por agora, devido à tragédia ser recente.