Após o porta-voz da Presidência da República, Otávio Rêgo Barros, anunciar, no fim da tarde de segunda-feira, o desligamento do então ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, o advogado carioca Gustavo Bebianno, uma repórter perguntou: “Quem fica no lugar dele?”. “Fica o general Floriano Peixoto”, disse Barros.
“O general passará a ser o Secretário-Geral da Presidência da República. De forma definitiva. Não há possibilidade de mudanças na estrutura da pasta”, completou ele.
General da reserva do Exército, Floriano Peixoto Vieira Neto é o oitavo nome de origem militar no governo Bolsonaro – a Esplanada atual tem 22 cargos com status de ministro. Sua nomeação definitiva para a Secretaria-Geral representa uma vitória da ala militar da Esplanada: parte dos ministros, principalmente aqueles mais próximos ao filósofo Olavo de Carvalho, defendiam a extinção do posto.
A escolha dele para o gabinete que era de Bebianno, no 4º andar do Palácio do Planalto, também significa que Bolsonaro terá apenas um civil em seu núcleo mais próximo: Onyx Lorenzoni (Casa Civil). Tirando ele, todos os outros três ministros que trabalham dentro do Palácio do Planalto têm agora origem militar.
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A nomeação de Floriano Peixoto acontece após vários dias de turbulências no governo envolvendo o agora ex-titular da pasta, Gustavo Bebianno. O ex-ministro presidiu o partido de Bolsonaro, o PSL, durante a campanha eleitoral. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, Bebianno autorizou o repasse de R$ 250 mil do fundo eleitoral para a candidatura de uma ex-assessora – esta, por sua vez, justificou o uso de parte deste dinheiro com notas fiscais de uma gráfica que seria de fachada.
A situação de Bebianno começou a se complicar na quarta-feira da semana passada, quando Bebianno foi acusado duas vezes de mentir sobre conversas com o presidente da República: primeiro pelo filho de Bolsonaro, o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PSL); e depois pelo próprio Jair Bolsonaro.
Na última quarta-feira (13), Carlos chegou a publicar no Twitter um áudio em que Bolsonaro se recusava a falar com Bebianno – o objetivo era contradizer o ex-ministro, que no dia anterior disse ter falado com Bolsonaro. O próprio presidente repercutiu a publicação do filho na rede social. Na segunda-feira (18), Bolsonaro publicou um vídeo com elogios a Bebianno para tentar amenizar a situação.
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Antes da posse de Bolsonaro, Floriano Peixoto integrou a equipe de transição nomeada para levantar informações e preparar o início do governo. Até esta segunda-feira, ocupava o cargo de secretário-executivo da Secretaria: era o nº2 na hierarquia da pasta.
No desenho atual da Esplanada, a Secretaria-Geral está esvaziada: é responsável pela área de Assuntos Estratégicos e por iniciativas de modernização do Estado. Inicialmente, ficaria também com o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), e com a Secretaria de Comunicação, mas estas atribuições acabaram sob a responsabilidade do ministro Santos Cruz (Secretaria de Governo – Segov).
Floriano Peixoto passou à reserva em 2014. Antes disso, cumpriu várias funções importantes no Exército – trabalhou em Joinville (SC); no Estado Maior do Exército (em Brasília); e até como instrutor cedido à academia militar norte-americana de West Point (em Nova York). Em São Paulo (SP), comandou a 2ª Divisão de Exército.
Sua primeira missão no Haiti foi em 2004, quando chefiou o contingente brasileiro na missão de paz das Nações Unidas naquele país, a Minustah – à época, ele trabalhava sob o comando do hoje colega Augusto Heleno.
Em abril de 2009, Floriano Peixoto tornou-se o comandante de toda a missão – liderou cerca de sete mil homens de 17 países diferentes. Seu sucessor no comando da missão foi o general Santos Cruz – hoje colega de governo.
Origens em Minas GeraisEle estava no comando da missão quando o Haiti foi atingido por um terremoto catastrófico, de 7 graus de magnitude – calcula-se que entre 100 e 200 mil pessoas tenham morrido na tragédia. Ao menos 18 militares brasileiros, sob o comando de Floriano Peixoto, perderam suas vidas. No momento do sismo, em 12 de janeiro, o general estava nos EUA, e preparando-se para voltar ao Haiti. Ao chegar ao país, coordenou o atendimento às vítimas.
Hoje com 65 anos de idade, Floriano Peixoto Vieira Neto é mineiro da cidade de Tombos. O centro da pequena cidade de 8,7 mil habitantes fica a apenas 2 km da fronteira com o Rio de Janeiro, e a outros 22 km do Espírito Santo. É casado e pai de dois filhos e uma filha. E, apesar do nome, não tem qualquer relação com o marechal Floriano Vieira Peixoto (1839-1895), sucessor de Deodoro da Fonseca e o segundo presidente da República do Brasil.
Apesar de nascido em Tombos, Floriano passou a adolescência na vizinha Muriaé (MG), para onde mudou-se em 1970. Parte dos familiares dele continuavam em Muriaé ao menos até 2013, quando o militar recebeu o título de cidadão honorário da cidade. Sua mãe, Frineida Matheus Vieira, trabalhou como professora.
A carreira militar de Floriano Peixoto começou em fevereiro de 1973, quando ele entrou para a Academia Militar das Agulhas (Aman), em Resende (RJ) – é a mesma escola de oficiais onde Jair Bolsonaro estudou. Os dois também ingressaram no mesmo ano, embora Bolsonaro tenha entrado no fim de 1973. Floriano graduou-se na arma de Infantaria.
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Além de Bolsonaro, Mourão e Floriano Peixoto, há mais cinco ministros atuais que se formaram na mesma escola: Augusto Heleno (GSI, formado na turma de 1969); Fernando Azevedo e Silva (Defesa, da turma de 1973); Santos Cruz (Secretaria de Governo, turma de 1974); Tarcísio Gomes (Infraestrutura, turma de 1996); e Wagner Rosário(CGU, também de 1966).
Após a Aman, Floriano Peixoto especializou-se como paraquedista (a mesma especialidade de Bolsonaro). Cursou a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO, em Deodoro-RJ), e a Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme, no bairro da Urca da capital fluminense). Na vida civil, graduou-se em administração de empresas e possui um MBA em Gerência Executiva.