A pergunta é uma das provocações feitas em um livro recém-lançado que tem movimentado o debate sobre os sistemas de ensino.
O argumento central de “Against Education – Why the Education System is a Waste of Time and Money” (em tradução livre “Contra a Educação – Por que o Sistema Educacional é um Desperdício de Tempo e Dinheiro”) é o de que o efeito da educação formal é fortemente superestimado: os alunos aprendem muito menos do que o sistema pressupõe, e melhor seria se eles se dedicassem a cursos mais úteis do que história da arte ou estudos sociais.
Para Caplan, um libertário que dá aula de Economia na Georse Mason University, nos arredores de Washington, o governo não deveria sequer aplicar recursos na educação.
A pergunta que incomodava o pesquisador era: por que pessoas com mais diplomas ganham mais dinheiro e são claramente privilegiadas pelo mercado, se na prática grande parte do conteúdo ensinado na escola e na faculdade tem pouca ou nenhuma aplicação prática no mercado de trabalho?
A resposta: o fenômeno conhecido como “signaling” (sinalização). Não é que você tenha ficado muito mais inteligente por ter feito faculdade: é que, com o diploma, você comprova aos empregadores ter algumas características como a capacidade de lidar com assuntos chatos, cumprir tarefas e ir até o fim em projetos. São habilidades relevantes no mercado de trabalho, mas que poderiam ser aferidas de formas muito mais simples, em menos tempo (e dinheiro).
O “signaling” já havia sido diagnosticado por outros economistas. Mas, para Caplan, o alcance dele é muito mais amplo do que se achava: ele acredita que até 80% da diferença salarial entre diplomados e não-diplomados é explicada por esse fenômeno. Os outros 20% poderiam ser atribuídos ao conteúdo aprendido em sala de aula.
Acreditar que a educação formal é o principal diferencial no aprendizado de alguém, diz ele, é acreditar ser possível se tornar um profissional de futebol apenas por treinar. É preciso ter habilidades, diz Caplan, e essas já existem independentemente da escola e da universidade.
O autor acredita que as famílias e entidades beneficentes seriam capazes de sustentar um sistema educacional mais enxuto, racional e eficiente, sem os desperdícios e distorções típicos da burocracia estatal.
Caplan propõe, além do corte de recursos públicos, a substituição do modelo atual pela educação vocacional: os alunos devem aprender profissões práticas, de acordo com suas habilidades, em vez de estudar espanhol ou fórmulas matemáticas que serão esquecidas em pouco tempo – e jamais teriam aplicação prática na vida da maioria dos estudantes.
De volta à pergunta original: se você pudesse frequentar Princeton por quatro anos sem ter um diploma ou ter um diploma sem nunca ir a Princeton, o que escolheria?
Se o mercado de trabalho premiasse o conhecimento aprendido na faculdade, as pessoas deveriam escolher a primeira opção sem titubear. Mas certamente não é o caso.
Existem muito mais pessoas que fraudam diplomas do que estudantes frequentando aulas de universidades secretamente, sem estarem matriculados, para obterem o conhecimento sem conquistarem um histórico escolar.
Essa constatação corrobora, ao menos em parte às provocações de Caplan. E, embora sejam voltadas para o sistema educacional dos EUA, merecem ser levadas a sério também no Brasil.