Carne Vale é uma expressão latina que significa “adeus à carne”, em referência ao período da Quaresma que se aproxima

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Carne Vale é uma expressão latina que significa “adeus à
carne”, em referência ao período da Quaresma que se aproxima,
 
liturgicamente
marcado pelo jejum e por outras penitências e sacrifícios. Consequentemente,
meio que para tentar compensar a carência vindoura, não é de se estranhar que, durante
essas festividades, as pessoas tenham acabado se acostumando a abusar da carne,
dos doces, do álcool, dos desejos sexuais e de quaisquer outras coisas que possam
vir a ser objeto das suas futuras abstenções.
Certas autoridades e políticos, no entanto, e apesar de não se absterem
de fazê-lo ao longo do restante do ano, aproveitam esse período para abusar
ainda mais da paciência e da passividade do povo brasileiro. A última veio do
Diretor-Geral da Polícia Federal, que novamente se manifestou descabida e
publicamente para defender o presidente na única investigação ainda pendente contra
ele no Supremo Tribunal Federal (STF). Em entrevista à agência Reuters, Fernando
Segóvia afirmou não haver indícios de que o decreto dos Portos, sancionado por
Temer em maio de 2017, tenha beneficiado a empresa Rodrimar, aventando, ainda,
a possibilidade de punição do delegado encarregado do inquérito [1].
A festa, também, é marcada pela inversão geral das regras e das convenções
do cotidiano. As pessoas se fantasiam, rico se mistura com pobre, homem se
veste de mulher. Por que não aproveitar, então, para desautorizar outros
magistrados e mandar soltar presidiários? Essa foi a contribuição de Gilmar
Mendes, “muso” multi-homenageado nessa época, ao conceder a liberdade ao
ex-secretário de Saúde de Sérgio Cabral, Sérgio Côrtes, preso na Operação
Fatura Exposta, desdobramento da Lava Jato no Rio. Afinal, como disse o próprio
beneficiado, as “putarias têm que continuar” [2].
Se bem que, nesse quesito, como na Bahia, o Carnaval de Gilmar é o ano
inteiro. Ele já havia concedido habeas
corpus
aos empresários Miguel Iskin e Gustavo Estellita, presos naquela
mesma operação. Livrou, também, o ex-governador Anthony Garotinho, o ex-médico estuprador
Roger Abdelmassih (que depois fugiu para o Líbano), o ex-banqueiro Daniel
Dantas, entre outros casos ilustres. O empresário carioca Jacob Barata Filho,
mais conhecido como “Rei do ônibus”, deve ter mais prestígio que o Rei Momo.
Foi solto pelo Ministro três vezes seguidas [3].
Para todos esses abusos, só há um remédio possível. Passada a ressaca da
folia, a população precisa limpar o glitter,
despir sua fantasia de palhaço e encarar a realidade, o quanto antes. Para
conseguir mudanças positivas no país, as pessoas terão que atuar juntas, conscientizando-se
umas às outras e mobilizando-se para formar um bloco cada vez maior, mais
organizado e mais coeso para lutarem por aquilo que querem. Sem pressão, nenhuma
das pautas que efetivamente interessam ao Brasil, a exemplo de uma ampla
reforma política, incluindo o fim do foro privilegiado, vai avançar no
Congresso. Daí, então, o cavaco não será o único a chorar…
Auditor do Tribunal de Contas da União (TCU)

[1] https://veja.abril.com.br/blog/noblat/com-segovia-na-policia-federal-temer-nao-precisa-de-advogado
.
[2] https://g1.globo.com/politica/noticia/gilmar-mendes-manda-soltar-sergio-cortes-ex-secretario-de-saude-cabral.ghtml
.

Campanha CLDF
Campanha-CLDF
[3] https://istoe.com.br/gilmar-mendes-concede-habeas-corpus-e-manda-soltar-anthony-garotinho,
https://pragmatismo.jusbrasil.com.br/noticias/134964236/o-maior-estupro-foi-feito-por-gilmar-mendes-diz-vitima-de-adbelmassih,
http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2017/12/01/pela-terceira-vez-gilmar-mendes-manda-soltar-empresario-jacob-barata-filho.htm

 Por: Regis Machado.


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