Caminhos da Reportagem traz homenagem a Carolina de Jesus, escritora

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Brasil, Campinas, SP, 13/12/1961. Retrato da escritora Carolina Maria de Jesus no Aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP) em viagem, em um voo pela Air France, até o Uruguai para acompanhar o lançamento de seu livro "Quarto de Despejo". Pasta: 39.771. Foto: Estadão Conteúdo - Crédito: Estadão Conteúdo/ESTADÃO CONTEÚDO/AE/Código imagem:218300

Caminhos da Reportagem traz homenagem a Carolina de Jesus, escritora

 “É muito emocionante ver uma pessoa que não tem nada e também não se contenta com esse nada. E tudo que é oferecido também não basta.” É assim que a escritora Conceição Evaristo (foto) define a resiliência de Carolina Maria de Jesus. Para o Caminhos da Reportagem, Conceição também conta como Carolina inspirou ela própria, e sua família, a “não aceitar a pequenez da vida”.

Carolina nasceu em Sacramento, Minas Gerais, e ainda jovem migrou para São Paulo. Morou na favela do Canindé, criou sozinha três filhos catando papel. E escreveu, escreveu muito. Sua obra de maior sucesso Quarto de Despejo, que faz 60 anos este ano, foi traduzida para mais de uma dúzia de idiomas, trouxe fama e reconhecimento para a autora que dizia que seu sonho era escrever. Junto com o sucesso um estigma: o de ser a escritora ex-favelada, só falava de pobreza e fome.

É esta imagem que pesquisadores e novos escritores negros têm tentado mudar nos últimos anos. “É sempre uma imagem marcada pela subalternidade. Carolina era vaidosa, gostava de se arrumar, usar pérolas, e quando tinha agenciamento sobre si, ela escolhia sempre pela vaidade. Hoje a gente tem a felicidade em ver que estamos procurando outras imagens de Carolina”, diz Raquel Barreto, historiadora e curadora da exposição promovida pelo Instituto Moreira Sales com o objetivo de desconstruir o  estereótipo de Carolina,  favelada e sempre com o lenço na cabeça.

Campanha CLDF
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Também para celebrar a escritora, vamos conhecer um pouco de suas obras inéditas, que serão publicadas em edição especial pela Companhia das Letras. A doutora em letras, Fernanda Miranda, fala da importância de se ter um conselho curador composto só por mulheres negras para resgatar  a essência de Carolina. Livros, peças de teatro, provérbios, e diários inéditos serão publicados sem cortes. “Nós entendemos que essa publicação estabelece um divisor de águas na obra de Carolina, porque não vamos interferir no texto dela. Quarto de Despejo e Casa de Alvenaria vão ser lidos pela primeira vez em sua totalidade”, diz Fernanda.

Carolina morreu há mais de quarenta anos e ainda hoje influencia escritores como Rainha do Verso, poeta, atriz e camelô no Rio de Janeiro. E é essa Carolina que você vai ver no Caminhos da Reportagem dessa semana. A íntegra de Caminhos da Reportagem fica disponível no site do programa