O presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social),
Paulo Rabello de Castro disse neste sábado (21) que 2018 representará um momento de inflexão, em que o País terá uma janela aberta para aprender a dar respostas rápidas. “2018 é uma janela importante, é a janela de resposta política, que é a única legítima na democracia”, disse, em palestra no IV Encontro Paulista de Economistas, em Santos, litoral de São Paulo.
De acordo com Rabello, o Brasil está de “pernas para o ar”, penalizado todos os dias pela sequência de “escândalos” noticiados diariamente. “Essa sequência é um mar de lama muito maior do que o de Mariana”, compara, ao referir-se ao rompimento de barragem na cidade mineira em novembro de 2015.
Em tom otimista, o presidente do BNDES pediu que os brasileiros não desistam do próprio País, afirmando que “somos nossos próprios adversários”. “Estamos no fundo do poço, e é aí que pegamos a escada e começamos a subir (…) Ou organizamos a lojinha, ou vamos todos para o inferno. E aqui é o céu”.
Rabello salientou que o Brasil País precisa organizar o mercado de trabalho. “Inviabilizamos o trabalho para viabilizar os juros”, destacando que o PIB só retomará com investimento e trabalho. “Não adianta pedir para o BNDES mandar cheque se não organizarmos o trabalho”.
Críticas
O presidente do BNDES voltou a criticar a decisão do governo de pedir a devolução de R$ 180 bilhões do banco ao Tesouro Nacional. “Em um País que não tem caixa nenhum, o pessoal fica olhando esquisito, pedindo para o BNDES devolver dinheiro [ao Tesouro Nacional], esterilizando o dinheiro do banco e acabando com a possibilidade de bancarmos o desenvolvimento nacional, sob os mais estúpidos argumentos”, disse.
O governo federal pediu que o BNDES devolva os recursos antecipadamente ao Tesouro, com o objetivo de reduzir a dívida pública bruta. A questão tem sido motivo de embates frequentes entre as duas instituições. O banco alega que a devolução irá comprometer ainda mais a ‘folga’ de caixa do BNDES em 2018, calculada em R$ 42 bilhões.
País desabituado a temas controversos
Paulo Rabello de Castro ainda afirmou à Agência Estado que não há discórdia entre o banco, o governo e o TCU (Tribunal de Contas da União) em relação ao pedido de devolução antecipada, pelo BNDES, de R$ 180 bilhões aos cofres públicos. “Não sou discordante, sou pensante. Se eu estivesse discordante, não poderia estar no governo”.
Para ele, o País está desabituado a um embate normal de ideias sobre temas que são, por natureza, controversos. Em sua opinião, seria irresponsável não discutir a devolução antecipada de um “caminhão de recursos”. “Ninguém tem medo do debate. Daqui até o final do ano o governo vai se manifestar, junto com o TCU, e o BNDES vai obedecer. É uma discussão saudável.”
Durante sua palestra, Rabello criticou as acusações de que o banco vinha oferecendo taxas subsidiadas à indústria, discussão que teria surgido com o agravamento dos problemas de endividamento público. “Não existe subsídio a industrial coisa nenhuma, isso é uma estupidez. O banco pega o dinheiro a TJLP, mas ele empresta a TJLP mais juros e devolve esses juros quando ganha dividendos e paga impostos como banqueiro para esse mesmo governo que emprestou. Portanto, devolvemos o porquinho gordinho. Eles fingem que o porquinho tem o mesmo peso, mas o porquinho engordou”, concluiu.
Após as críticas, o presidente do BNDES aliviou o tom e elogiou o trabalho do governo e do Banco Central na redução da taxa de juros. Em sua avaliação, a queda da taxa Selic já aponta um cenário mais positivo para o próximo ano. “Estamos nos preparando para arremeter em 2018, não precisamos esperar 2019”, disse.
Rabello, que se filiou ao PSC no início deste mês, rechaçou uma eventual candidatura nas eleições presidenciais de 2018. “A única candidatura em discussão hoje é a lançada pela imprensa”, afirmou.