Enquanto a maioria dos colegas de classe do ensino médio estudava para
ser médico ou advogado, Henrique de Pinho José se imaginava dentro de
uma sala de aula, ensinando Biologia. A vontade era tamanha que
surpreendia os amigos e até mesmo os professores. José é uma exceção, já
que no Brasil cada vez menos jovens querem seguir a carreira docente.
Hoje, apenas 2,4% dos alunos de 15 anos têm interesse na profissão. Há
dez anos, o porcentual era de 7,5%.
Os dados são do relatório Políticas Eficientes para Professores, da
OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Na
média, os países avaliados também tiveram queda na proporção de alunos
de 15 anos interessados pela carreira. O porcentual passou de 6% dos
adolescentes para 4,2%. Segundo o estudo, a baixa atratividade da
carreira se deve ao pouco reconhecimento social e aos salários.
Filho de pais que não tiveram a oportunidade de fazer faculdade, José
conseguiu uma bolsa em uma escola particular no ensino médio e depois
cursou Biologia e licenciatura. “Para famílias menos favorecidas, ser
professor não é uma péssima ideia. Mas, na escola privada, os alunos são
incentivados a irem para carreiras mais prestigiadas”, diz. Hoje, aos
25 anos, ele dá aula para crianças de 6 e 7 anos em uma escola municipal
de Praia Grande, no litoral paulista.
MEC entrega base curricular do ensino médio para análise
No Brasil, são alunos como José que querem ser professores. O relatório
indica que quanto menor a escolaridade dos pais, maior é a proporção
dos interessados na carreira. Os dados mostram que a profissão é a
escolha de 3,4% dos jovens filhos de pais que só concluíram o ensino
fundamental. Entre os filhos de pais que cursaram até o ensino superior,
o porcentual cai para 1,8%.
Desvalorização
Aluno do 3.º semestre de Letras do Instituto Singularidades, Maicon
Ferreira, de 19 anos, lembra que foi desencorajado a seguir a carreira
pelos professores da escola técnica onde fez o ensino médio integrado ao
curso de Automação. “Muitos professores eram engenheiros e me
aconselharam a escolher outra graduação. Eles diziam que quem dá aula
ganha mal, é desvalorizado, passa por muito estresse. Mas eu sabia que
era essa a carreira que queria seguir.”
Parceria entre MEC e CGU foca no ensino de ética e cidadania
De família de baixa renda, Ferreira conta que em casa sempre conviveu
com problemas financeiros. Foi um projeto de Literatura desenvolvido por
um professor de Português, que o ajudou a seguir estimulado na escola.
“Tive uma infância difícil, minha família sempre viveu com uma renda
mensal per capita de no máximo R$ 300. Esse professor e o projeto
fizeram com que eu me encontrasse, ganhasse autoestima. Quero ser esse
professor para oferecer a outros alunos o mesmo que recebi.”