Álcool e droga no sangue, perigo constante mesmo longe do
volante. Mais de um terço das vítimas de acidentes fatais de trânsito
neste ano havia ingerido bebidas alcoólicas ou feito uso de
entorpecentes. Isso não significa que elas foram culpadas pelas colisões
ou atropelamentos, mas indica um caminho perigoso que intensifica a
vulnerabilidade daqueles que são os mais fracos nas vias do DF. A
maioria delas era pedestre.
As informações são de um levantamento preliminar da Gerência de
Estatísticas do Departamento de Trânsito (Detran- DF) com base nos dados
do Instituto Médico Legal (IML). Em 39% dos laudos periciais de 171
vítimas havia indicativo de consumo de álcool ou outras drogas. Os mais
velhos, entre 50 e 59 anos, são os que mais morreram após ingerir
bebidas alcoólicas. Os adultos jovens, de 20 e 29 anos, são as
principais vítimas de trânsito após uso de entorpecentes.
Os acidentes envolvem ciclistas, passageiros, motociclistas e
condutores, mas são os pedestres formam a maioria, representando 48% de
todos os óbitos após consumo de bebidas alcoólicas e 37% após uso de
outras drogas. Na ponta do lápis, segundo o Detran, janeiro a julho
deste ano, 66 transeuntes morreram em acidentes de trânsito, sendo que
28 (42,2%) haviam consumido álcool, drogas ou ambas as substâncias
simultaneamente.
Efeito depressivo
Biomédica, especialista em dependência química e coordenadora do
Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), Erica Siu explica que
o álcool é um depressor do sistema nervoso central. O efeito depende de
diversos fatores, como idade, sexo, contexto, alimentação e até
genética.
“É um equívoco pensar que o álcool deixa mais estimulado e alegre.
Nas primeiras doses, de fato, a pessoa fica mais falante. Depois, tem
uma redução de respostas aos estímulos. É preciso alertar para os
efeitos. Se, para o motorista, a recomendação é de consumo zero para ter
100% dos reflexos, o pedestre precisa discernir a segurança de saber
quando atravessar a rua”, pondera.
Há condições em que o álcool é contraindicado, como gestantes,
lactantes, menores de 18 anos, quem vai conduzir veículos ou máquinas e
quem já tem dependência. Para pessoas fora dessas condições, a OMS
preconiza que não se consuma mais de duas doses por dia e que a pessoa
não beba em dois dias na semana.
De acordo com Erica, são padrões comuns e mais arriscados mulheres
que consomem quatro ou mais doses em uma mesma ocasião ou homens que
tomam cinco ou mais. Com esses índices, a pessoa alcança alcoolemia que
predispõe maior risco à saúde e de acidentes. “É preocupante e não é
raro. O próprio Ministério da Saúde diz que 27% dos homens e 12% das
mulheres têm esse tipo de comportamento”, alerta Erica.
Vulnerabilidade
“A gente vem aprimorando cada vez mais as estatísticas e os estudos, e
buscando saber por que as pessoas se envolvem em acidentes. Cobramos
muito do motorista, mas, desde 2015, trabalhamos essa questão além do
volante”, afirma Silvain Fonseca, diretor do Detran. Ele lembra que,
apesar disso, o condutor precisa ter consciência de que ele passa por
formação, tem “armadura” e deve proteger o menor.
Fonseca conta que chama a atenção a quantidade de acidentes
envolvendo o uso de álcool e outras drogas por motoristas, ciclistas e
pedestres. “Definitivamente tem sido um dos fatores de risco que mais
têm elevado as mortes”.
Enquanto 145 motoristas são presos por embriaguez mensalmente, não há
como aplicar sanções a pedestres e ciclistas. “Temos de trabalhar com
informações, mostrar a fragilidade. Muitos são dependentes, perdem o
senso crítico e passam a ser vulneráveis”, diz. Para ele, o álcool torna
todos vítimas em potencial.
Saiba mais
» Relatório recente da Organização Mundial da Saúde mostra que o
consumo estimado de álcool no Brasil em 2016 foi de 7,8 litros de álcool
puro per capita. A quantidade supera a média internacional, de 6,4
litros por pessoa.
» O País está na 49ª posição do ranking entre os 193 avaliados.
Apesar de alto, sugere uma redução no consumo de álcool pela população
brasileira em relação a 2010, quando eram 8,7 litros.
» A Associação Médica Americana (The American Medical Association)
considera como uma concentração alcoólica capaz de trazer prejuízos ao
indivíduo 0,04 miligramas por litro de sangue (mg/l) de sangue. Apesar
da tolerância zero com consumo de álcool, o Código de Trânsito
Brasileiro considera crime a condução de veículo quando o índice de
alcoolemia chega a 0,33 mg/l.
Redução
Em 2017, o resultado positivo para consumo de alguma substância
psicoativa englobou 47% das 257 vítimas mortas no trânsito. Das 75
vítimas que consumiram bebida alcoólica, 29 eram pedestres, 20
condutores, 14 motociclistas, seis ciclistas e seis passageiros. Das 68
que indicaram consumo de drogas, 25 eram pedestres, 15 motociclistas, 11
condutores, dez passageiros e sete ciclistas.