O aniversário de 58 anos de Brasília foi a síntese da pluralidade da
capital federal. Nos dois dias de shows no palco da Esplanada dos
Ministérios, passaram por ali diversas vertentes musicais e expressões
culturais vistas por mais de 30 mil pessoas que formaram o público da
festa.
A noite deste domingo (22) foi dedicada a grandes nomes do rap local e
nacional. A programação teve início no fim de tarde, com a Cia. Pegada
Black, passando pelo rapper cearense Rapadura Xique Chico, seguido pela
força feminina das Donas da Rima, o reencontro histórico do Câmbio
Negro, a poesia de GOG, finalizando com Mano Brown, referência do rap
nacional.
Às 16h da tarde, sob o sol forte de abril, a Pegada Black já colocava
a galera para dançar. Com seus típicos passos de Charme, o grupo teve
seu DJ selecionado no chamamento público, e toda a companhia compareceu
ao palco na abertura e nos intervalos dos shows. Petrônio Paixão, líder
do grupo, disse que foi um verdadeiro sonho. “A gente vem de uma batalha
de muitos anos, tem gente dançando com o olho cheio de lágrima. Estar
aqui é mágico, estamos parabenizando nossa cidade, representando a
galera da periferia aqui”, disse.
Crescido
em Samambaia o rapper Rapadura Xique Chico sintetiza a diversidade
cultural brasiliense. Misturando o rap com a cultura popular brasileira,
traz as influências e as lutas do norte e nordeste para suas letras.
Para ele, se apresentar no aniversário de Brasília é “representar um
povo, a cultura, a luta dessas pessoas, dos muitos nordestinos que
trabalham e vivem aqui. De alguma forma a gente representa essas pessoas
através do nosso canto. Elas nos representam na luta diária e nós
estamos juntos com elas quando temos o microfone na mão. A gente faz
questão de falar por essas pessoas que não tem voz. Eu me sinto muito
feliz por ser um representante dessas pessoas”.
Trazendo a força feminina do rap, as Donas da Rima subiram ao palco
logo em seguida. Com Cris de Souza, Júlia Nara, Luana Euzébia, Thug Dee,
Vera Verônika e Julyana Duarte, o show trouxe diversas mensagens de
resistência e empoderamento feminino, inclusive com o depoimento de
Sônia Guajajara, pedindo justiça e garantia de direitos para a população
indígena.
Luana Eusébia lembrou que este espaço de manifestação artística é
“extremamente importante, por sermos mulheres que estão lutando por um
espaço na cena Hip Hop do DF e é uma honra estarmos representando várias
minas de todas as quebradas, de todos os lugares”. O grupo reúne
integrantes de diversas Regiões Administrativas, tais como São
Sebastião, Brazlândia, Asa Norte, Recanto das Emas, e inclusive da RIDE,
como Planaltina de Goiás e Valparaíso.
Depois de 18 anos, o Câmbio Negro, grupo pioneiro do rap no Distrito
Federal, se reuniu para esta apresentação histórica. Mesmo com uma nova
formação, o grupo trouxe clássicos como “Sub raça” e “Que irmão é você”.
“Tocar no aniversário da minha cidade, nasci aqui, para a gente é
fantástico esse convite”, disse o vocalista X.
Também nascido em Brasília, GOG trouxe seus sucessos e diversos
convidados para o palco, entre eles, Thabata Lorena e Rebeca Realleza.
“É muito importante ver que a cena tem uma história e que ela continua
presente. O rap conseguiu ascender a vários espaços mas continua fincado
nas suas raízes”, disse Thabata. “É uma grande satisfação ver a antiga e
a nova escola do rap juntas fazendo acontecer no centro de Brasília,
onde a nossa voz ecoa para cada quebrada. A voz ativa da periferia eles
não podem calar”, complementou Rebeca.
GOG celebrou a reunião de tantos nomes do Hip Hop da cidade no palco
principal, principalmente no atual contexto. “Quando Brasília completa
58 anos, a gente vê infelizmente que falta pouco para 1964. Essa é a
luta que a gente faz. Periferia é periferia em qualquer lugar, e de fora
das asas do avião, Brasília teve coragem de fazer esse ano uma festa
com a cara dela”, afirmou.
Fã de Mano Brown desde pequeno, Christopher Monteiro, de 23 anos,
chegou à Esplanada antes das 16h, para pegar o lugar mais próximo ao
palco. Morador da Candangolândia, não mediu esforços para assistir ao
show. “O Hip Hop é muito forte em Brasília, trazer o Brown foi muito
daora”, disse.
O show que fechou a noite dedicada ao Hip Hop foi de Mano Brown,
integrante dos Racionais MC’s, referência do rap nacional. O paulista
apresentou os grandes sucessos do grupo, que foram acompanhados em
uníssono pelo público na Esplanada dos Ministérios. Aniversariante do
dia, também ouviu “parabéns pra você” cantado pelo público.
“Me sinto em família e em casa e não tenho como retribuir”, disse,
emocionado. Apesar da noite totalmente dedicada ao estilo, Mano Brown
lembra que “a periferia tem muitas vozes. O rap é uma delas. Não é
única”, destacando a importância da liberdade de pensamento e expressão
cultural.
